A fé move tijolos / Carlos Eduardo Dias Comas
29 Mar 2012 -
- Carlos Eduardo Dias Comas , Igor Fracalossi-
- Artigos, Selecionados - Arquitetura Religiosa, Curva, Eladio Dieste, Estrutura, Igreja, Tijolo, Uruguai
Dieste alia a casca de cerâmica armada e a forma móvel. Sofisticados procedimentos de cálculo estrutural e o tijolo, barato e pouco exigente quanto à especialização da mão-de-obra, lhe permite racionalizar a técnica de execução de diferentes tipos de abóbadas e lâminas curvas ou dobradas. O método e a escala são, obviamente, compatíveis com grandes vãos e adequadas ao projeto de fábricas, ginásios, torres, tanques, silos e outros tipos de estruturas utilitárias. A elegância e a força plástica dos resultados sugerem possibilidades mais amplas, tal como demostra a igreja em um subúrbio do balneário para a classe média próximo à Montevideo.


O terreno é um lote retangular num bairro informe de trabalhadores e camponeses que supre o balneário de hortaliças, trabalhadores da construção e empregadas domésticas. O encargo requer economia e rapidez na execução e está limitado a uma cobertura. Dieste o transforma em arquitetura. O projeto propõe uma nave basilical de 16 x 30 metros, paralela e muito próxima à linha divisa norte. O conjunto de paredes e cobertura se concebe como uma grande casca de dupla curvatura que se apoia no terreno mediantes fundações in situ. Cada parede, de 7 metros de altura e 30 centímetros de espessura, está formada por uma sucessão de conóides de direção reta ao nível do solo e ondulada (com uma parábola e duas meias parábolas conformadas por uma onda) na parte superior. Arremata-se com uma fiada horizontal de tijolo e concreto que funciona como beiral e absorve o empuxo da abóbada de cobertura, cujo tijolo está recoberto por uma capa de plaquetas cerâmicas porosas, muito isolante e leve. O vão médio da abóbada é de 16 metros, o máximo de 18,8 metros e a inclinação varia de 7 a 147 centímetros, o que faz o vale da onda ser quase horizontal.